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11/03/2019

SÍTIO ARQUEOLÓGICO É RESGATADO NO CANTEIRO DE OBRAS DO CONTORNO VIÁRIO DE FLORIANÓPOLIS EM BIGUAÇU

Descoberta de artefatos possivelmente pré-históricos no trecho de Biguaçu foi realizada pela equipe de monitoramento arqueológico da Arteris Litoral Sul

A descoberta de artefatos em pedra, como lascas e pontas de flecha, identificados pela equipe de monitoramento arqueológico da Arteris Litoral Sul, chamou a atenção para a riqueza pré-histórica encontrada em pleno canteiro de obras do Contorno Viário da Grande Florianópolis, no trecho de Biguaçu. Foram coletadas 105 peças em duas áreas mapeadas e monitoradas pela equipe responsável. Foi o segundo trabalho de salvamento arqueológico realizado desde que as obras do Contorno tiveram início. O primeiro ocorreu na região da Pedra Branca, em Palhoça, e resultou na coleta de 130 peças.

O monitoramento arqueológico das obras do Contorno é realizado de forma permanente em áreas com potencial presença de sítios arqueológicos, identificados ainda durante a realização do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do empreendimento. Antes mesmo do início das obras, na fase de execução do EIA, já haviam sido identificados e resgatados cinco sítios arqueológicos no trajeto.

Segundo a bióloga Daniela Bussmann, coordenadora de Meio Ambiente da Litoral Sul, os arqueólogos envolvidos na construção do Contorno acompanham todas as fases da obra. “Desde antes da supressão até o início das obras, os trechos são minuciosamente monitorados e, se constatada a presença de um sítio arqueológico no local, são iniciados os trâmites para o salvamento, como no caso deste sítio em Biguaçu”, explica. A bióloga ainda complementa que o trabalho se concentra na área delimitada pelos arqueólogos, sem que haja comprometimento do cronograma das obras da rodovia.

O projeto para a execução do salvamento foi encaminhado para apreciação do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), órgão federal responsável pela preservação do patrimônio cultural nacional. Com a autorização do IPHAN em mãos, o trabalho de campo foi realizado entre os meses de dezembro e janeiro. O salvamento do sítio envolveu sete arqueólogos do Grupo de Pesquisa em Educação Patrimonial e Arqueologia (Grupep) da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), contratada pela Arteris Litoral Sul para a execução dos trabalhos. Além disso, alunos dos cursos de História, Geografia e Biologia da universidade são convidados a participar das atividades de campo, como forma pedagógica para entenderem o processo de resgate arqueológico.

Materiais coletados remontam a períodos pré-históricos

Conforme explica um dos coordenadores do resgate do sítio em Biguaçu, o arqueólogo Geovan Martins Guimarães, os artefatos encontrados estão ligados à presença de grupos pré-históricos portadores da tradição de produção artefatual Umbu, cujos registros oficiais, em Santa Catarina, datam de 12 mil anos atrás. Eles são conhecidos como povos pré-históricos que adentraram o território catarinense pela região do Vale do Rio Uruguai, pré-ceramistas – anteriores à descoberta da cerâmica – e tidos como os ancestrais mais antigos que se tem conhecimento no Estado. Devido ao meio que utilizavam para sobreviver, foram denominados como caçadores-coletores.

Geovan ainda explica que os povos caçadores-coletores não se fixavam em um único local, mantinham uma vida itinerante, circulando por um território maior em busca de novas possibilidades de caça de animais, coleta de frutos e áreas para extração de matéria-prima para a produção de artefatos, além de organizarem-se em pequenos grupos. “Estamos na fase de análise dos artefatos achados para termos maior precisão de a qual período pertenceram”, completa Geovan.

Como é feito o trabalho

O sítio arqueológico resgatado foi identificado em uma área de aproximadamente um hectare no bairro Rússia, em Biguaçu, e é composto por duas áreas de concentração de materiais. Foram aplicadas metodologias de pesquisa consolidadas para escavação arqueológica, como quadriculamento, decapagem, peneiramento, identificação, documentação e registros in loco dos artefatos descobertos. Após o trabalho de campo, com a documentação e resgate de artefatos, o estudo passa para a parte laboratorial, com a análise tecno-tipológica das peças e datação em carbono 14. Ao final do processo, as peças passarão a compor o acervo do Grupep da UNISUL.